O voto da emigração foi decisivo para a composição final da Assembleia da República, permitindo ao Chega consolidar a sua posição como segunda força política em Portugal, com 60 deputados. A coligação Aliança Democrática (AD), por sua vez, conseguiu roubar ao PS o único mandato que este detinha no círculo da Europa, ficando o Partido Socialista sem qualquer representante eleito pela diáspora portuguesa.

Os quatro deputados atribuídos aos dois círculos da emigração — Europa e Fora da Europa — foram repartidos entre o Chega e a AD. O partido liderado por André Ventura manteve os dois mandatos que já detinha nestes círculos: um na Europa e outro no resto do mundo. Este desfecho permite ao Chega ultrapassar o PS em número de deputados e ascender formalmente à liderança da oposição.

Apesar da vitória em mandatos, o Chega ficou ligeiramente atrás do PS em número de votos, por uma diferença de cerca de cinco mil eleitores num universo de 1,4 milhões de votos. O PS termina assim com 58 deputados, contra os 60 do Chega e os 91 da AD (89 do PSD e 2 do CDS-PP).

Voto da Europa dividido, mas decisivo

Segundo os dados avançados por delegados partidários presentes no apuramento, no círculo da Europa o Chega obteve o dobro dos votos da AD, graças ao apoio expressivo dos emigrantes portugueses em França e na Suíça. Em contraste, a AD obteve melhores resultados no Reino Unido, Espanha, Holanda e Itália.

Foi essa distribuição desigual de votos que permitiu à AD eleger José Manuel Fernandes, actual ministro da Agricultura, por uma margem inferior a mil votos, de acordo com declarações do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, ao jornal PÚBLICO.

PS perde toda a representação na emigração

Este resultado representa uma quebra significativa para o PS, que, nas anteriores legislativas, tinha conseguido eleger pelo menos um deputado nos círculos da emigração. Desta vez, a combinação da mobilização do eleitorado de direita e a dispersão do voto socialista ditaram a perda total de representação do PS entre os emigrantes.

A vitória do Chega nestes círculos eleitorais reforça a presença do partido junto da diáspora portuguesa, em particular nas comunidades mais numerosas da Europa Ocidental. Já a AD, apesar da quebra de mandatos em relação a eleições anteriores, beneficia de uma distribuição mais homogénea do seu eleitorado, que lhe garantiu o quarto deputado da emigração — e um ligeiro reforço institucional ao conquistar mais um nome relevante para a sua bancada parlamentar.